quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quero uma mulher perdigueira

Não resisti e comprei o livro do Carpinejar, Mulher Perdigueira, aconselho a todos, é uma ótima leitura escrito por um bambambã.

Estou postando essa crônica por que fecha com meus pensamentos e eu não preciso escrever, posto também em homenagem ao escritor e a meus seguidores que sei que apreciam. Né Diogo? Né Eduarda Trevisani?


“Meus amigos reclamam quando suas namoradas o perseguem. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falarem praticamente nada, o cerceamento dos horários.

Sempre as mesmas tramas de tolhimento da liberdade, que todos concordam e soltam gargalhadas buscando um refúgio para respirar.

Eu me faço de surdo.

Fico com vontade de pedir emprestada a chave da prisão para passar o domingo. Acho o controle comovente. Invejável.

Não sou favorável à indiferença, à independência, ao casamento sartreano. Fui criado para fazer um puxadinho, agregar família, reunir dissidentes, explodir em verdades. Duas casas diferentes já é viagem, não me serve.

Aspiro ao casamento pirandelliano, um à procura permanente do outro. Sou um totalitário na paixão. Um tirano. Um ditador. Não me dê poder que escravizo. Não me dê espaço que cultivo. Não me eleja democraticamente que mudo a constituição e emendo os mandatos.

Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando.

A mulher que ninguém quer, eu quero. Contraditória, incoerente, descabida. Que me envergonhe para respeitá-la. Que me reconheça para nos fortalecer.

A mulher que não sabe amar recuando e não tolera que eu ame atrasado. Que parcele em dez vezes seu dia, que não pague a conversa à vista na hora do jantar, que não junte suas notícias para contar de noite como um relatório. Admiro os bocados, as porções, as ninharias. Alegria pequena e preciosa de respirar rente ao seu nariz e definir com que roupa vou ao serviço.

O amor é uma comissão de inquérito, é abrir as contas, é grampear o telefone, é cheirar as camisas. É também o perdão, não conseguir dormir sem fazer as pazes.

O amor é cobrança, dor-de-cotovelo, não aceitar uma vida pela metade, não confundi-la com segurança. Exigir mais vontade quando ela se ofereceu inteira. Enlouquecê-la para pentear seus cabelos antes do vento. Enervá-la para que diga que não a entende. E entender menos e precisar mais.

Quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha.

Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-la: avisá-la para espiar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-la, sublinhar uma frase para guardá-la.

Sou doido, mas doido varrido. Bem limpo. Aprendi a usar furadeira e agora entro fácil em parafuso. Quero uma mulher imatura, que possa adoecer e se recuperar do meu lado. Uma mulher que me provoque quando não estou a fim. Que dance em minhas costas para me reconciliar com o passado. Que me acalme quando estou no fim do filtro. Que me emagreça de ofensas.

Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém.

Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos.”



10 comentários:

  1. Antes que sentem o pau, saibam que o texto nao é meu, mas concordo com ele em vários pontos, prefiro ser cuidado de mais do que de menos, só nao sente ciúmes quem nao ama, se seus companheiros e companheiras nao cuidam pode saber que alguma coisa ha. No mínimo amor de menos.

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  2. Ah,tá né? E a "Amélia que era mulher de verdade". . .

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  3. Realmente, concordo em muita coisa.
    ''Quando a gente gosta é claro que a gente cuida..''

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  4. Sempre digo que ética, honestidade, educação e bom senso a gente ensina. Boas árvores darão bons frutos!
    Agora acho que sensibilidade e inteligência é genético, rs,rs,rs... Fabrício Carpinejar é meu primo! Grande primo! Não preciso dizer que adorei esse texto, né?
    Bjs.
    Léo

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  5. Realmente, o texto é lindo, e romântico, e respeito que tenhas te idenficado tanto.
    Embora, ao ler algumas de tuas outras postagens recentes,que pregam a paixão inúmeras vezes durante a vida,(leia-se "A Dança do Acasalamento")tu, te pareças um pouquinho contraditório.
    Mas, quem não é?!
    Sendo assim, acho que vale refletir, sobre as possibilidades de que existam outras formas de amar.
    Quem sabe, algumas possam ser mais discretas, contidas, e nem por isto, menos verdadeiras.
    Conheço casais, que praticam boa parte do que está descrito no texto, e tudo me soa mais, como um espetáculo piegas. Nem sempre, é possível perceber tanto amor.
    Eu mesma, já amei duas, ou até três vezes, e nunca cheirei camisas, revistei bolsos, carros, carteiras ou espionei celulares. . . o contrário de quase todas as minhas amigas, é verdade!
    Mas, é que minha forma de amar, segue minha personalidade. É só minha, fica lá, no meu íntimo, dita apenas, para quem eu julgo deva interessar.
    Eu, penso que a manifesto, quando ao olhar para a pessoa amada, o olhar seja tão intenso, que é possível ver nossas almas, mutuamente.
    Eu, compro prsentinhos, apenas porque ao passar pela vitrine, estava pensando na pessoa amada, e o que está exposto é a cara dele. Eu, beijo, beijo e beijo. . . eu fico horas na cama(enquanto a coluna resistir, na minha idade)só, para ficar com o meu corpo, colado ao dele.
    Sou tão a favor do amor, que acredito em todas as formas de amar, e completamente livres de quaisquer preconceitos. Eu, acredito em amores, entre pessoas com 5,15,20. . . anos de diferença de idade, diferenças sociais. Acredito ainda, em amores enre meninas e meninas, e vice versa.
    Acredito tanto no amor, que recentemente por um possível e utópico grande amor, me comportei de uma forma, tão boazinhae submissa, como não sou nem nos finais do ano, quando o tal "espirito de Natal" sempre, me atinge.
    Negligenciei, meu trabalho, minha casa, meus filhos e minha vaidade.
    Tudo, para ver se dava certo. . .
    Não deu!
    Mas, poderia ter dado, e eu prefiro a dor do fracasso, ante a eterna dúvida e frustação de não ter tentado.
    Para aqueles, que já encontraram e vivem seus grandes amores, meus cumprimentos e votos de eternas felicidades.
    E, para aqueles que permanecem na busca eterna, muita sorte, e uma certa dose de perserverança, eu acho que vamos precisar.

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  6. perdão, favor incluir o "r" ao ler "frustação", não é burrice, é que como "ltras" mesmo!!E, já estou cansada de digitar, é a 3ª vez!!
    GP, tua página "dá pau", sempre na hora de postar.

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  7. Foi um dos melhorces posts que ja li, nao tenho a menor ideia de quem seja, mas esse anônimo tem estilo...ah se tem.
    Quanto a dar pau no blog, isso é meio comum, qdo terminar dá um "Ctrl V" só pra garantir.

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  8. Perfeito... Só falto um principal o homem assim

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  9. Oi, compadre! É a primeira vez que entro aqui, sabe como é, mal consigo dar conta de ler meus e-mails e o orkut então... Adoro internet, computador, mas falta tempo e prática para acessar. Apesar de não ser tão velha assim, não sou muito ligada nessas tecnologias. Não consigo falar com duas pessoas ao mesmo tempo no MSN, pode? E como professora de português também não sou adepta do "internetês" não consigo abreviar, nem escrever palavras pela metade, hehehe!! Assim ocupo muito espaço, né? Mas o que eu queria dizer é que gostei muito das tuas crônicas, textos e comentários, e agora vou ficar de olho e ler tudo o que puder. Parabéns,e se tu puderes me emprestar o livro do Carpinejar, vou adorar ler. Prometo que devolvo logo! Beijo.

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  10. Bem vinda cumadi! legal te ver por aqui, espaço democrático para falar o que vier na cabeça e o que não vier também.
    BJ

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